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Sobre Drogas

A dimensão do problema do consumo de drogas no Brasil e no mundo

O fenômeno do uso de drogas é complexo e o debate sobre o tema aborda aspectos muitas vezes conflitantes. Por um lado, sabe-se que os seres humanos sempre buscaram na natureza substâncias que alterassem seu estado de consciência, desde o início de sua história, levando a ideia de que este é um comportamento que faz parte da natureza humana e, portanto, deveria ser aceitável. Por outro, temos as questões da saúde pública, com provas irrefutáveis de que o uso dessas substâncias, lícitas ou ilícitas, pode causar danos não só para a saúde física, mental e social do próprio indivíduo, como também geram um enorme fardo para a sociedade em que está inserido (UNODC, 2021).

Trata-se do aumento de gastos no sistema de saúde (acidentes e sobrecarga no tratamento de condições de saúde física e mental, agudas e crônicas decorrentes do consumo), de previdência social (perda da capacidade laboral) e de segurança pública (associações do consumo com violência doméstica e urbana e seus impactos sociais). 

Os prejuízos relacionados ao uso das substâncias legalmente comercializadas principalmente (álcool e tabaco) configuram entre as principais causas de morte precoce e incapacidade no mundo (WHO, 2018).  Sendo assim, apesar de ser um comportamento intrínseco à natureza humana, o impacto negativo do consumo de substâncias é inquestionável, precisando, portanto, ser inibido, postergado ou prevenido.

A seguir falaremos das principais substâncias psicotrópicas, informação básica, efeiro e riscos.

Maconha

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Referências:

Cash, M. C., Cunnane, K., Fan, C., & Romero-Sandoval, E. A. (2020). Mapping cannabis potency in medical and recreational programs in the United States. PLoS One, 15(3). doi:10.1371/journal.pone.0230167

ElSohly, M. A., Mehmedic, Z., Foster, S., Gon, C., Chandra, S., & Church, J. C. (2016). Changes in Cannabis Potency over the Last Two Decades (1995-2014) – Analysis of Current Data in the United States. Biol Psychiatry, 79(7), 613-619. doi:10.1016/j.biopsych.2016.01.004

Freeman, T. P., Craft, S., Wilson, J., Stylianou, S., ElSohly, M., Di Forti, M., & Lynskey, M. T. (2021). Changes in delta-9-tetrahydrocannabinol (THC) and cannabidiol (CBD) concentrations in cannabis over time: systematic review and meta-analysis. Addiction, 116(5), 1000-1010. doi:10.1111/add.15253

Seillier, A., Martinez, A. A., & Giuffrida, A. (2020). Differential effects of Δ9-tetrahydrocannabinol dosing on correlates of schizophrenia in the sub-chronic PCP rat model. PLoS One, 15(3). doi:10.1371/journal.pone.0230238

Wilson, J., Freeman, T. P., & Mackie, C. J. (2019). Effects of increasing cannabis potency on adolescent health. Lancet Child Adolesc Health, 3(2), 121-128. doi:10.1016/s2352-4642(18)30342-0

Fergusson, D. M., & Boden, J. M. (2008). Cannabis use and later life outcomes. Addiction, 103(6), 969-976; discussion 977-968. doi:ADD2221 [pii]
10.1111/j.1360-0443.2008.02221.x [doi]

Meier, M. H., Caspi, A., Ambler, A., Harrington, H., Houts, R., Keefe, R. S., . . . Moffitt, T. E. (2012). Persistent cannabis users show neuropsychological decline from childhood to midlife. Proc Natl Acad Sci U S A, 109(40), E2657-2664. doi:1206820109 [pii]

Drogas estimulantes

Principais drogas estimulantes

Cocaína

#saiba +

Cafeína

Crack

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Sintéticas - ATS

(Estimulantes do tipo das anfetaminas)

Nicotina

Estimulantes sintéticos

Ecstasy

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Nicotina

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“VAPING”

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Drogas depressoras

Álcool

Benzodiazepínicos

Barbitúricos

Opióides

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Álcool

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O Álcool 

Consumir bebidas alcoólicas é um comportamento comum na maioria dos grupos sociais. Todavia este consumo acarreta riscos, desde danos para a saúde até consequências sociais, relacionados à sua capacidade de intoxicação (bebedeira) e propriedades aditivas (desenvolvimento do alcoolismo).

Recentemente a Organização Mundial da Saúde determinou a extinção da noção de “beber saudável”. Através de uma série de estudos foi verificado que por menor que seja a dose consumida, ainda existirá algum nível de risco, tanto comportamental (beber e dirigir, por exemplo), quanto fisiológicos (doenças do fígado e trato digestivo).

opioides

Opióides

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Os opióides

são originalmente drogas derivadas do ópio, advindo da papoula, mas a classe dos opiáceos é extensa, incluindo além de sua forma natural, também versões sintéticas e semi-sintéticas.

Os opióides são analgésicos potentes estando entre os fármacos mais utilizados para tratar diversos tipos de dor. Além do efeito analgésico, estas substâncias geram sensação de euforia e bem-estar e calma, sendo, portanto, largamente utilizadas recreativamente. Entre seus efeitos agudos também estão a tontura, sonolência, náusea, prisão de ventre, respiração reduzida. Sua intoxicação pode levar a perda da consciência, coma e morte. Embora importantes coadjuvantes na medicina, essas drogas tem alto potencial de dependência, gerando tolerância rapidamente e síndrome de abstinência quando o uso é interrompido abruptamente. Entre os sintomas de abstinência estão: inquietação, dores nos músculos e ossos, insônia, diarreia, vômito, calafrios e tremedeiras. O uso de heroína e medicações a base de opióides semi-sintéticos e sintéticos sem prescrição tem sido um dos maiores problemas de saúde pública nos Estados Unidos e Canadá, levando a mais de 63 mil óbitos no país em um único ano (REF UNODC 2021)

Drogas pertubadoras / Alucinógenas

lsd

LSD

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Principais alucinógenos

LSD

Psilocibina (presente nos cogumelos)

DMT (componente ativo da ahayuaska)

Ibogaína

25B-NBOMe

PCP

Anestésicos dissociativos

opioides

Ketamina

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Principais dissociativos

Ketamina ou Cetamina

GBH (Boa noite Cinderela)

GBL

Solventes inalantes

lanca-perfume

Lança-perfume

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Principais solventes

Lança-perfume

Benzina 

 

Cola de sapateiro/ Loló

Sobre padrões de uso de drogas

Os prejuízos relacionados às drogas não se restringem apenas aos indivíduos que desenvolvem o transtorno da dependência química. Danos físicos e/ou psicológicos podem ser também consequência do padrão de consumo da droga, e a isso chamamos “Uso Nocivo”. 

Efeitos nocivos podem estar associados ao uso de determinada substância em uma única ocasião, como por exemplo ter uma overdose ou sofrer alguma lesão resultante de intoxicação – bem como pode estar associado ao uso crônico de longo prazo, mais relacionado à dependência, como problemas de saúde e uma série de problemas sociais, jurídicos, financeiros e emocionais.

Qualquer substância pode ser usada de forma nociva, e geralmente, é exatamente o padrão de uso nocivo que tem maior impacto negativo na sociedade como um todo, pois é praticado por uma proporção maior da população, não dependendo do desencadeamento ou não da síndrome de dependência. 

Isso vale principalmente para drogas lícitas, como o álcool, em que uma prevalência muito grande da população consome. 

Existem diferentes indicadores de consumo para substâncias específicas, mas, de forma geral, podemos classificar o padrão de uso de qualquer droga seguindo os indicadores propostos pela OMS: 

Classificação de padrões de uso da OMS
Uso na vidauso da substância pelo menos uma vez na vida.
Uso no anouso pelo menos uma vez nos últimos 12 meses.
Uso recente ou no mêsuso pelo menos uma vez nos últimos 30 dias.
Uso frequenteuso seis ou mais vezes nos últimos 30 dias.
Uso de Riscoimplica alto risco de prejuízo à saúde física ou mental do usuário,
mas ainda não causou doença física ou psicológica (i.e., quadros de uso abusivo
ou nocivo).
Uso prejudicialjá causa prejuízo físico ou psicológico (i.e., quadros de dependência).

A OMS apresenta, também, uma classificação que organiza os indivíduos conforme a intensidade do consumo. Essa organização é interessante principalmente para profissionais que ainda estão pouco familiarizados com quadros de TUS e que podem ficar confusos com algumas argumentações de pacientes, por exemplo: “Uso pouco”, “Só uso quando tem”, “Uso socialmente”, “Quando uso, costumo usar muito”. Essas quantificações são imprecisas e, muitas vezes, tornam a anamnese pouco objetiva. De acordo com a intensidade do consumo, para a OMS, o usuário pode ser:

Classificação de padrões de uso da OMS
Não usuárionunca utilizou
Usuário leveusou, no último mês, menos que uma vez por semana
Usuário moderadousou na última semana, mas não diariamente
Usuário pesadoutilizou diariamente no último mês
Padrão de Uso conforme OMS
Padrões de consumo de específicos para bebidas alcoólicas:

Segundo a OMS, a frequência, a quantidade e as circunstâncias do consumo são aspectos importantes da análise do padrão de uso de álcool, que devem serem monitorados, visto que esses padrões de consumo têm sido associados à mortalidade e à carga de doenças.

Embora indicadores de padrão de uso sejam importantes no contexto clínico, a determinação de indicadores objetivos e universais são fundamentais para estudos epidemiológicos. 

Nesse sentido, são geralmente estudados os seguintes indicadores:

Sobre a dependência química

A dependência também pode ser caracterizada por suas alterações biológicas, uma vez que as chamadas “drogas de abuso”, ou substâncias psicoativas (SPA), são capazes de alterar o funcionamento do circuito de recompensa cerebral. A OMS (LINK PARA GUIA) descreve as SPA como substâncias que afetam os processos cerebrais normais da senso-percepcão, das emoções e da motivação. Essas substâncias irão invariavelmente ativar esse circuito gerando prazer e a repetição do comportamento de uso.  As diferentes substâncias psicoativas tem maneiras diferentes de agir no cérebro para produzir os seus efeitos. Ligam-se a tipos diferentes de receptores, e podem aumentar ou diminuir a atividade dos neurônios através de diferentes mecanismos, tendo, consequentemente, diferentes efeitos sobre o comportamento, diferentes taxas de desenvolvimento de tolerância, diferentes sintomas de abstinência, e diferentes efeitos a curto e a longo prazo. 

Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a dependência química é definida como o “estado psíquico e algumas vezes físico resultante da interação entre um organismo vivo e uma substância, caracterizado por modificações de comportamento e outras reações que sempre incluem o impulso a utilizar a substância de modo contínuo ou periódico com a finalidade de experimentar seus efeitos psíquicos e, algumas vezes, de evitar o desconforto da privação.

Segundo Laranjeira (2014- Referência livro do capitulo anexo), o conceito de síndrome de dependência representa uma importante ferramenta para o profissional da área, por vários motivos:

Ajuda a situá-lo quanto à existência e a gravidade do problema, bem como auxiliá-lo no mapeamento dos fatores de proteção e risco, capazes de interferir na evolução do quadro diagnosticado

Considera a dependência não apenas a partir de suas características biológicas, valorizando igualmente os aspectos psicossociais envolvidos

Representa um novo paradigma para o paciente e seus familiares, uma vez que proporciona explicações isentas de moralismo e imprecisões

Sobre o poder de dependência

Como a figura ilustra, drogas FUMADAS terão maiores chances de desencadear a dependência em comparação a drogas usadas por outras vias. Essa é a razão, por exemplo, que o crack apresenta um maior poder de dependência que a cocaína, uma vez que, ao chegarem no cérebro, são a mesma substância.

Sobre diagnósticos

Os Manuais de Referência:

CID significa "Classificação Internacional de Doenças" e o número 11 indica a versão, ou seja, já foram feitas 11 atualizações e revisões desse código

DSM é uma sigla ingles (Diagnostic and Statistical Manual) que significa "Manual de Diagnóstico e Estatísticas" e o número 5-TR é usado para indicar que já foram feitas cinco revisões

Critério A: padrão problemático de uso de determinada substância, que leve a comprometimento ou sofrimento clinicamente significativo, percebido por pelo menos dois dos critérios a seguir, que devem ocorrer pelo período mínimo de 12 meses:

A substância é frequentemente consumida em maiores quantidades ou por um período de tempo maior que o pretendido.

Desejo persistente ou esforços malsucedidos na tentativa de reduzir ou controlar o uso da substância.

Muito tempo é gasto em atividades relacionadas a obtenção, utilização ou recuperação dos efeitos do uso da substância.

Fissura, desejo intenso ou mesmo necessidade de usar a substância.

Uso recorrente da substância, resultando em fracassos no desempenho de papéis em casa, no trabalho ou na escola.

Uso contínuo da substância, apesar dos problemas sociais ou interpessoais persistentes ou recorrentes causados ou piorados por seus efeitos.

Abandono ou redução de atividades sociais, profissionais ou recreativas importantes ao indivíduo devido ao consumo de substâncias.

Uso contínuo da substância, apesar dos problemas sociais ou interpessoais persistentes ou recorrentes causados ou piorados por seus efeitos.

Uso contínuo da substância mesmo em situações nas quais esse consumo represente riscos à integridade física.

O consumo é mantido apesar da consciência de se ter um problema físico ou psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado por esse uso.

Tolerância, definida como: efeito acentuadamente menor com o uso continuado da mesma quantidade de substância e/ou necessidade de quantidades progressivamentmaiores de substância para atingir o mesmo grau de intoxicação

Abstinência manifestada por: síndrome de abstinência característica da substância utilizada e/ou uso da substância ou de similares na intenção de evitar os sintomas de abstinência

Os conceitos e critérios diagnósticos aqui apresentados devem servir para oferecer uma melhor compreensão dos casos estudados, auxiliando os técnicos de diferentes áreas a terem uma linguagem ao menos similar. Deve-se ter em mente que a categorização de uma pessoa usuária de substâncias psicoativas em algum desses critérios pode ter um forte impacto social e para o indivíduo.

Sobre o Alcoolismo

Estreitamento do repertório do beber – Tendência a ingerir bebidas alcoólicas seguindo um padrão. A pessoa bebe a mesma quantidade, estando acompanhada ou não, nos dias úteis ou nos finais fins de semana. Os dias de abstinência ou de consumo baixo tornam-se cada vez mais difíceis de acontecer. Influências sociais e psicológicas ficam cada vez menos importantes (p. ex., bebia apenas para comemorar, agora bebe quando está feliz, triste, só ou na presença de outras pessoas, de dia ou de noite e em qualquer dia da semana).

Tolerância – Perda ou diminuição da sensibilidade aos efeitos iniciais do álcool. O indivíduo passa a necessitar de doses cada vez maiores para experimentar os mesmos efeitos agradáveis. Torna-se cada vez mais resistente e consegue exercer atividades que outras pessoas (não dependentes) com o mesmo nível de alcoolemia não conseguiriam.

Síndrome de abstinência – Sinais e sintomas psíquicos e físicos que ocorrem após a diminuição ou interrupção do consumo da substância. Quanto maior o grau de dependência, mais exuberante é o efeito da ausência da substância no organismo do paciente.

Saliência do comportamento de uso – Ocorre a presença de desejo persistente e tentativas frustradas de controlar o consumo. O indivíduo passa a utilizar a substância em maiores quantidades e maior frequência que o inicialmente planejado (p. ex., quando conta que sai para tomar uma dose e só volta após beber várias doses). Há um comprometimento funcional, pois o indivíduo passa a utilizar seu tempo de forma cada vez maior para adquirir, consumir ou recuperar-se das intoxicações.

Alívio ou evitação dos sintomas de abstinência – O consumo não é mais uma experiência unicamente motivada pelo prazer, passando a ser necessária para evitar os sintomas desconfortáveis da ausência da substância.

Sensação subjetiva da necessidade de consumir – É a própria fissura, isto é, a vontade intensa e subjetiva de consumir.

Reinstalação da síndrome de dependência após abstinência – Após algum período de abstinência, o indivíduo que volta a consumir rapidamente retorna ao mesmo padrão mal-adaptativo do uso (p. ex., indivíduo que tomava um litro de cachaça por dia, permaneceu um ano sem beber, voltou a usar a bebida e, em questão de semanas, retorna à quantidade de um litro por dia).

A partir dessa definição, foi observado que muitas outras dependências seguiam padrões semelhantes. 

É importante compreender que cada indivíduo desenvolve um padrão diferente de consumo de substâncias, possuindo diferentes chances de desenvolver dependência,  de acordo com os diversos fatores biológicos, psicológicos, ambiente sociocultural e a natureza da substância. Contudo, nenhum padrão de consumo de substâncias de abuso está isento de riscos. Todavia, o consumo de álcool em baixas quantidades e com alguns cuidados pode ser considerado um tipo de consumo de baixo risco.

Para obter ajuda consulte:

Download - World Drug Report 2021